1 de fev. de 2015

Enredo em jogos de Luta não são importantes... Será mesmo?



E aqui venho eu trazer algo diferente de Mega Man... Ou Pokémon.
Bom, Fighting Games não está tão longe disso, já que teve outros posts meus sobre isso... Mas vamos entrar nesse antigo e polêmico assunto.

Não é novidade para nenhum gamer, que existe uma certa divisão entre os jogadores... Aqueles que querem jogar, se aprofundar e conhecer mais os personagens e o universo. E aqueles que querem... simplesmente jogar.

Eu gosto de classificar entre: Aqueles que não apertam Start na abertura do jogo e aqueles que apertam.

Mas é inegável que os jogos de luta são um gênero onde grande parcela do seu público se encaixa na segunda classificação.




Isso provavelmente é devido ao fato de que o gênero se foca muito mais no competitivo do que em qualquer outra coisa. Temos como exemplo, Virtua Fighter, que apesar de certos detalhes na história e vencedores diferentes em cada torneio... Tudo simplesmente se resume a você ter que enfrentar Dural no fim do jogo... Sem muitos detalhes. Não houve nenhuma intenção da SEGA até o momento de mudar a formula e prosseguir um pouco mais com a história.



E isso nos leva ao segundo fator do desinteresse no enredo de um jogo de luta... Eles podem ser péssimos.
Ok, não é para tanto... Mas eles podem ser mal trabalhados no geral.
Normalmente é Street Fighter usado como exemplo para isso, para tentar provar que jogos de luta normalmente não tem uma boa história. É completamente normal uma pessoa ficar excessivamente decepcionada com o enredo verdadeiro de Street Fighter. Todos os OVAs Japoneses, que poderiam ter uma classificação canônica se a Capcom quisesse, simplesmente são desconsiderados, independente do quão interessante o roteiro do OVA tenha sido.

Como se não bastasse, Evil Ryu e Shin Akuma são constantemente segurados pela empresa para não ir no lado "canônico" da linha. Visto que Evil Ryu até hoje só apareceu canonicamente no fim do primeiro Street Fighter na luta entre Ryu e Sagat, o fator que levou Sagat a ganhar a sua icônica cicatriz. Mas o problema é que essa única aparição canônica é justamente em um jogo onde o conceito do Evil Ryu sequer existia, e, portanto... É praticamente equivalente a "nada". E tudo vai por água a baixo quando em Street Fighter IV, Gouken, mestre de Ryu, sela completamente o Satsui no Hadou do protagonista... Resultando no fato de que jamais veremos Evil Ryu aparecer canonicamente diante dos nossos olhos, só os "What Ifs" de sempre.

Quanto ao Shin Akuma? Também tem todas suas aparições fora do Canon, sua única aparição de fato foi em Street Fighter III: 2nd Impact.



Quer mais? O torneio de Street Fighter II, possivelmente o jogo mais famoso da franquia, não tem seu vencedor oficialmente revelado, embora tudo leva a crer que não foi Ryu e sim Ken. Além disso, Bison possivelmente não é mais fraco que Akuma.

Bom... quando uma pessoa começa a jogar Street Fighter e assistir suas animações (Que não sejam as americanas com Guile como protagonista), é completamente normal ela imaginar que a história fala sobre Ryu, que participou do torneio de SF II, teve sua luta contra Bison na final interrompida por Akuma, um vilão mais poderoso, e os dois se enfrentam. Posteriormente ele teria histórias sobre lutas internas contra seu lado maligno que sempre se manifesta de vez em quando e já enfrentou Shin Akuma várias vezes nessa forma.
Bom, pelo menos é isso que as batalhas finais secretas e os OVAs dão a entender... Então quando uma pessoa descobre como é realmente a história de Street Fighter, é natural que ela fique completamente decepcionada e passe a não ligar mais para ela.

Ok... Street Fighter não tem o enredo mais admirável do mundo. Mas é ai que vem a generalização do público... Que vê que jogos de luta não tem enredos interessantes ou dignos de se prestar a atenção... Mas isso não é realmente verdade. A maioria dos pesos pesados desse gênero costumam se dedicar a expandir a vida de seus personagens a cada novo jogo e até mesmo todo um universo.

Temos vários exemplos... Comecemos com os jogos de luta da SNK, que antigamente era capaz de rivalizar com a Capcom nesse gênero de jogo. Para quem não sabe, ela é dona de Samurai Shodown, The Last Blade, Art of Fighting, Fatal Fury e The King of Fighters.



E o mais interessante, a maioria desses jogos da SNK se passam no mesmo universo. De Samurai Shodown até Garou Mark of the Wolves é possível fazer toda uma cronologia com diversos títulos da empresa, não se limitando aos de luta. Interessante demais para dizer que não estão se importando com o enredo, não?

Além disso, temos The King of Fighters, atual carro chefe da empresa, que tem seu próprio universo, mas é canon com os acontecimentos dos outros jogos da SNK, mas por outro lado, ele por si só não é canon com eles. Acho que me entenderam certo?

A franquia KOF é divida em três sagas: Orochi, NESTS e Tales of Ash, ou quatro se você conta o '94 como "Saga Rugal". E a cada nova saga reflete a uma evolução e um maior compromisso em se aprofundar no enredo do jogo...

A Saga Orochi como é a primeira, é a mais simples mas muito promissora. Se focando em Kyo Kusanagi se envolvendo no seu destino como um dos três tesouros sagrados e impedir a ressurreição de Orochi.

A Saga NESTS passa a ter um enredo muito mais "ficção científica", na luta contra um sindicato maligno que faz diversos experimentos com biotecnologia e cria um exercito de clones. Os personagens centrais como K', Maxima e Kula Diamond no fim de tudo apenas lutam pela sua liberdade para viver vidas normais e não como experimentos da NESTS.

E a Saga Tales of Ash uma grande variação no enredo, se focando em um Anti-Herói, Ash Crismon que possui a intenção de roubar os três tesouros sagrados por motivos desconhecidos. O ultimo jogo que encerra a saga teve toda uma reviravolta com direito a paradoxo temporal.



Outra franquia que é possível apontar é Tekken. Apesar dos dois primeiros jogos se resumirem a Kazuya e Heihachi ficarem se matando. A partir de Tekken 3 temos toda uma luta de Jin Kazama contra a maldição da linhagem de sua família e em breve tudo isso irá se encerrar em Tekken 7.

Temos também BlazBlue que não só possui um enredo muito complexo como todo seu universo é expandido para além dos jogos de luta, possuindo Spin-Offs e Audio Drama que ajuda a tampar vários buracos no plot. O Story Mode de BlazBlue combina o estilo Visual Novel com momentos de luta, dando mais detalhe a história.

E eu também não poderia deixar de citar Mortal Kombat que mais do que nunca está trabalhando no enredo da franquia, possuindo uma ótima formula para Story Mode.

Mas apesar de tudo isso, os públicos dessas franquias, talvez exceto BlazBlue, aparenta não se dedicar a conhecer mais sobre ela, ainda afirmando que o enredo não é tão importante... As vezes sem nem tentar pesquisar mais sobre ele antes.

Temos como exemplo Dead or Alive, a franquia atualmente está desenvolvendo seu enredo na luta contra Victor Donovan, antigo líder da DOATEC e atual líder da MIST, o responsável pelos inúmeros clones de Kasumi. Mas é muito claro que as pessoas só se importam com o competitivo e principalmente, com peitos balançando na tela, o que deixa a história em terceiro plano para os jogadores.

É evidente que hoje em dia muitos produtores se dedicam a quebrar essa barreira, tentando trabalhar mais a profundidade do jogo e dar vida aos personagens, ao invés de serem simples "bonecos" de luta, que é como muitos jogadores os chamam... "bonecos".



Comumente vemos jogadores usando personagens apenas por sua jogabilidade. O que te faz imaginar se ele realmente "gosta" do personagem ou se ele gosta apenas do "Gameplay" dele, pois é evidente que muitos jogam com um personagem e não sabem nem metade sobre a história de quem estão usando... Muitas vezes porque não se importam com a identidade dele, desde que ele seja bom para se jogar. Eu particularmente gosto de jogar com meus personagens preferidos, independente deles serem ruins ou difíceis de jogar... O importante é que eu estou usando um personagem que eu gosto muito em sua história e personalidade. Ele ser difícil ou muito ruim, é apenas uma barreira que eu devo superar para me divertir ainda mais com o personagem que eu curto.

Mas considerando que o enredo, o visual e a identidade dos personagens são irrelevantes para a maior parte do público, que diferença faria fazer personagens novos com todo um visual e enredo desenvolvido? Tecnicamente, um jogo onde todos os modelos 3D fossem iguais ou Stickmans, mas com jogabilidades diferentes... Não faria diferença alguma para esses jogadores, visto que o que estaria em falta, é exatamente o que eles não ligam.

Ainda há aqueles que alegam que mesmo com o enredo, não daria certo, pois o jogo é simplesmente você enfrentar alguém a cada Round até chegar ao Final Boss. Mas se fôssemos por esse pensamento... Nem mesmo jogos de Plataforma conseguiram ter um enredo profundo, pois tecnicamente, eles são jogos que o personagem vai da esquerda para a direita até chegar no chefe. Mas sabemos que muitos jogos de plataforma deram certo ao desenvolver cada vez mais o plot e seu universo.



Mas sabendo do desinteresse da maioria do público, porque as empresas ainda se dedicam a desenvolver a história a cada novo jogo? Talvez o motivo seja muito mais "cultural".

É evidente que do nosso lado do mundo, os jogadores de Fighting Games são bem mais desinteressados nessa parte do jogo. O competitivo é tudo para eles e provavelmente seu único foco no jogo todo. Mas no Japão, os jogadores dão muito mais valor a história de um jogo e seus personagens... Portanto, mesmo que o público daqui não ligue, ainda recebemos o conteúdo que o país de origem do jogo se importa em desenvolver. É o que acostuma acontecer em jogos como The King of Fighters.

Em conclusão, eu diria que jogos de luta podem sim ter enredos bem elaborados e criativos, personagens desenvolvidos e universo expandido. Mas ele faz isso em território de pessoas que simplesmente não ligam ou não dão valor a essa característica e portando, sempre passam para frente o pensamento de que "O enredo não importa", o que faz os outros pensarem que todo jogo de luta tem um enredo digno de ser ignorado, o que nem de longe é verdade.

E como em cidade de destros ainda pode nascer canhotos... É lógico que haverá aqueles poucos dedicados a acompanhar a história de um jogo de luta. Mas infelizmente, perto daqueles que só ligam para o competitivo, acaba existindo muito preconceito... Muitos constantemente são obrigados a ouvir a antiga e famosa frase: "Se quer história, vai jogar RPG", uma frase um tanto ultrapassada diria eu...

Culturalmente, o nosso lado do mundo ainda precisa aprender a dar mais valor no enredo e desenvolvimento de personagens em games em geral, não só Fightning Games e aprender que essa característica não é exclusiva dos RPGs.

E é só por hoje pessoal, espero que tenham gostado.

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